segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Gramática X Efeito estilístico

Uma grande preocupação do autor em relação à escrita é a questão gramatical. Nossa rica Língua Portuguesa, cheia de regras e exceções, não é uma das ferramentas mais fáceis de serem usadas, principalmente por novos autores como eu. O fato de adorar escrever, criar tramas, descrever personagens e considerar-se bom não é o bastante para garantir um texto bem escrito. Falando nisso, o que é um texto bem escrito?

Para os gramáticos, uma boa produção escrita é aquela que leva em conta a aplicação correta das regras gramaticais. No entanto, qual é a real importância disso num trabalho literário? Obviamente, nenhum leitor sente prazer em ler algo cheio de erros de concordância e mal uso de palavras e expressões. Mas onde entram a coerência e a coesão? De que adianta um texto gramaticalmente impecável se este não tem sentido, não apresenta boa conexão de ideias e é "sem sal"? Até que ponto a busca pela escrita gramaticalmente perfeita coloca em risco um texto?


Particularmente, considero minha escrita simples, com vocabulário e construções de frases igualmente simples. Minha prioridade é o conteúdo, e reconheço que acabo deixando a forma um pouco de lado. Claro que busco usar a língua corretamente, mas muito me fascina a quebra de paradigmas. Sou apaixonado pela licença poética e procuro inseri-la em meus textos, aliada a estilos de escrita. Se meu objetivo é produzir um efeito específico em meu texto, por que padronizá-lo de acordo com regras?

Minha professora de Morfossintaxe na faculdade sempre frisa que a desculpa "porque soa melhor" não é justificativa para o uso de determinada estrutura ou regra. Tem de haver um motivo, uma relação sintática. Entendo, mas considero o som de um texto tão importante — se não mais — quanto sua versão escrita. A reprodução sonora oriunda da leitura, mental ou oral, é essencial para a aceitabilidade do leitor. É tão difícil escrever sobre situações cotidianas envolvendo diálogos entre jovens e usar a colocação pronominal! Um "contatá-lo-ei" destrói completamente a verossimilhança. O "me dá aqui" é tão mais fácil de ser lido e processado e permite uma aceitação muito mais natural do que "dê-me aqui". Vale a pena sacrificar a fluidez da próclise por excessivas ênclises, porque é correto?

Não me refiro apenas aos diálogos. A narração é tão "diálogo" quanto as personagens, pois o narrador estabelece um diálogo constante com o leitor. Quão "forçada" não parece uma narrativa formal permeada de diálogos baseados na oralidade? Definitivamente, este "vai-e-vem" entre graus de formalidade não é algo que desejo em meus textos. Um tom permanente compõe uma unidade muito mais coerente, e isso é o que prezo. Não sou contra a gramática, de maneira alguma. Mas também, como ser a favor de algo que limita grande parte dos estilos de escrita? Se eu uso repetição de termos ou sons, é porque quero causar determinado efeito no leitor. Se abro mão de conectores em uma passagem, é porque quero explorar a sensação que diferentes estruturas podem causar; e não necessariamente tornar a escrita “pobre”. Por isso, se aos olhos da gramática meus textos podem não ser bem escritos, fico feliz que, aos olhos da literatura, sigo meu coração e coloco a fidelidade à mensagem e o impacto no leitor em primeiro lugar.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Plot twists

Uma das coisas às quais tenho prestado muita atenção ultimamente é o lance dos plot twists — ou reviravoltas na trama. Basicamente, são aqueles acontecimentos que viram tudo de cabeça para baixo; o querosene no incêndio do circo e o sal na ferida. A importância destes momentos é justamente o sopro de ar fresco que proporcionam à história, quase como uma troca de posições num jogo de vôlei. Quem antes era o "bonzinho" vira o "malvado" e vice-versa; ou ainda, descobrimos um fato sobre o passado de uma personagem que revela uma motivação por trás de suas ações, algo completamente diferente do que esperávamos.

Plot twists são, assim, indispensáveis à manutenção da trama e ajudam também a enriquecê-la. Um livro com muitos acontecimentos é bem mais dinâmico do que outro em que tudo se desenvolve num passo mais lento e previsível. Basta observar as séries de maior sucesso: todas incluem várias reviravoltas.


A surpresa é um elemento essencial aos plot twists, uma vez que, se a reviravolta não surpreende o leitor, acaba não sendo realmente uma reviravolta, mas apenas um fato que — na melhor das hipóteses — já fora previsto e estava sendo aguardando ansiosamente para que acontecesse. Neste caso, uma das saídas é jogar o twist sobre a reação das personagens. Como tal personagem reagirá à descoberta de determinada informação? Reações também podem adicionar muito ao crescimento da história, e quando se consegue aliar a surpresa do ocorrido àquela da reação de uma personagem, temos o perfeito plot twist.

Escrever "O Valete Negro" tem sido uma experiência mais divertida do que "O Pentagrama", uma vez que as personagens já tiveram seus perfis e suas histórias básicas apresentadas no decorrer de um livro inteiro. Agora eu sinto mais liberdade para brincar com as mesmas e explorar seu passado, seus sentimentos e seus pensamentos. É aí que os plot twists entram em cena. Sendo personagens já conhecidas do leitor, as reviravoltas revelam-se extremamente úteis em mostrar outro lado de cada um deles, algo inesperado. É mais fácil criar os twists com perfis pré-apresentados, mas é preciso também cuidado para que os mesmos se encaixem com o fundo da trama e o resultado fique equilibrado.

No fim das contas, é uma ferramenta muito, mas muito divertida.