quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Como Escrever - Parte 1

Meu nome é Vitor Mendes. Sou autor do romance "O Pentagrama", meu livro de estreia publicado pela Drago Editorial em 2015. Não, não sou nenhum Stephen King, embora escreva suspense e terror também. Não, não vou mentir e afirmar que não tenho pretensão de "ser grande". Se não tivesse, teria deixado meu projeto para sempre numa pastinha esquecida no computador. É só que, diferente do que tenho visto nos últimos tempos, quero me tornar um grande autor à minha maneira. Não quero ser melhor que o rei do momento; apenas quero ser o melhor que eu possa ser, cada vez mais. "Grande" em minha própria definição, e essa por si só me basta.

Assim, com uma pretensão que gosto de considerar saudável para um autor brasileiro e novo no cenário atual, convido você, leitor e/ou autor, a embarcar em algumas reflexões acerca de minhas próprias experiências com a escrita, com o único objetivo de compartilhar meu ponto de vista sobre o que é escrever e - sem querer sugerir, de maneira alguma, que você precise da tutoria de um jovem autor - como realizar tal ofício.


Publicarei uma série de "bate-papos", como gosto de pensar que sejam, nos quais pretendo explorar assuntos já muito "batidos", só que sob minha ótica; ela pode parecer um pouco incomum. Mas eu prometo que, dada sua persistência, fará sentido. É sério.

Clarice define o que é escrever de uma forma curiosa, mas com a qual muito me identifico: "Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada.

Desde a mais tenra idade, eu lia compulsivamente. Colecionava séries aos montes, ao passo em que já tentava reproduzir minhas próprias ideias em livros. Falhei, falhei e falhei. Nunca conseguia ir adiante na escrita. Mais tarde, aos onze anos, teve início um período turbulento de minha pré-adolescência, quando mudei de escola e percebi, chocado, que não me reconhecia naquele novo ambiente. Eu não entendia o lugar, as pessoas. Logo comecei a sofrer bullying no local onde passava a maior parte das horas diárias. Ou melhor, onde passava a maior parte das 8.760 horas de cada ano, por assim dizer. E, com sua permissão, gostaria de explicar que aqui eu uso o termo "sofrer" não como uma invocação da imagem da vítima. Claro que foi assim que me senti, com meus onze anos, ao ser constantemente xingado e segregado por praticamente toda uma unidade escolar, mas certamente não é como enxergo a situação agora. "Sofrer" soa, em meus ouvidos, como o verbo natural de um processo - processo este de enorme importância, pois foi ao longo dele que cresceram sentimentos dos mais variados, vagos e sufocadores, como define Clarice. Mas foi graças a eles que o pequeno Vitor finalmente deixou de falhar e escreveu, porque enfim compreendeu o que é escrever.

Colocar as palavras no papel não dá a sensação de estar meramente fazendo isso. A sensação é tão diversa quanto travar um diálogo consigo mesmo e só ser capaz de fazê-lo enquanto os dedos estiverem escrevendo. Como naqueles debates em que não se pode parar nem por um segundo de argumentar, a caneta deve percorrer o papel - ou os dedos, o teclado -, e a conversa tem que evoluir. Porque somente assim, através dessa conversa barulhenta e silenciosa, que não depende do papel, mas fica registrada nele, é que é possível reproduzir o irreproduzível. 


Se é mesmo possível? Quem sou eu para responder... Se eu consigo? Honestamente, não me importo. O objetivo, desde que comecei a ter sucesso nessa atividade (finalizar uma obra), foi procurar entender. Buscar sentido nos sentimentos e nas situações, sem jamais ter garantia de encontrar alguma coerência. E, de fato, não importa fazer descobertas. O que faz a diferença, no final, é que esse ato traz um alívio e, verdadeiramente, abençoa uma vida que não foi abençoada.

Desse modo, descobri o que escrever representa para mim. Nada mais do que uma forma de lidar com as coisas à minha maneira. É poder me comunicar com alguém mesmo não tendo coragem para isso; é mostrar para mim mesmo como eu queria que um aspecto fosse, e torná-lo exatamente como idealizo. É assumir as rédeas e estar no controle.

Sentir com clareza o que a escrita significa para você é o primeiro passo na jornada sobre "como escrever". E abusando um pouco mais da exuberante Clarice: "Minha liberdade é escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo."

2 comentários:

  1. Brilhante e genial! Adorei!
    Vim parar em seu blog por acaso, mas acredito que voltarei sempre que der.
    Infelizmente, minha escrita se limita a pequenos textos. Ainda não possuo a capacidade de escrever um livro. Quem sabe um dia, não é mesmo?

    Beijos!

    www.escritoraporumacaso.blogspot.com

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    1. Olá, Vitoria!
      Obrigado pelos elogios, fico muito feliz por ter gostado do artigo. Quanto aos seus "pequenos textos", não dizem justamente que "os melhores conteúdos estão nos menores frascos?". Posso não ter lido nada seu ainda, mas estou certo de que você deve realizar um excelente trabalho em poucas laudas - e talvez este seja seu estilo: conciso.
      No entanto, continue tentando a produção de algo mais extenso; pareceu-me uma vontade sua e torço muito pelo seu sucesso!
      PS.: Seguindo seu blog e página do Facebook já curtida ;)

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